quarta-feira, 13 de junho de 2012

TESES SOBRE O CONCEITO DE HISTÓRIA WALTER BENJAMIN (escrito por volta de 1940)


É inevitável: estamos à mercê do materialismo histórico. De maneira fatalista, esta entidade criada por Marx escreve o rumo da história. Ela está por trás da manipulação do fantoche, os atores sociais, como meios e mecanismos de ação. À luz da teleologia, as relações dos fatores de produção com as relações de produção e a determinação que esta relação possui na superestrutura define o telos.
Qual é a relação que temos com o futuro? Ilusões, projeções de felicidade que poderiam ter sido realizadas. Tivéssemos cumprido essas aspirações, seríamos felizes. Estaríamos salvos. Hoje vivemos às sombras dessas construções.
A história toma a imagem do passado como estudo. Invariavelmente não se sabe tudo, o que dá sabor ao labor. Imaculado para quem o faz? Fazemo-nos sobre estruturas já erigidas. O rito de passagem é despercebido, o natural social. A cada geração foi-nos concedida uma frágil força messiânica para a qual o passado dirige um apelo. Esse apelo não pode ser rejeitado impunemente. O materialista histórico sabe disso.
A luta de classes estabelece o bruto e o material; sem eles não há o refinado e o espiritual. Não se trata de um prêmio, mas fruto das relações: a coragem, a confiança, o humor, a astúcia, a firmeza. Elas, sim, questionarão sempre cada vitória dos dominadores.
O estudo do presente permite sua própria mudança. Não está estabelecido, portanto. O passado, quando reconhecido como tal, passa a ser objeto da história, cristalizado. O historicismo se separa do materialismo histórico quando afirma que a verdade nunca lhe escapará.
Estudar o passado significa conhecê-lo não exatamente como ele foi, mas uma de suas reminiscências. O materialismo histórico busca uma imagem do passado que represente perigo imperceptível ao sujeito histórico, sem que ele tenha consciência disso. Em cada época, é preciso arrancar a tradição ao conformismo. Os mortos também não estarão em segurança se o inimigo vencer.
O historiador deve romper com as construções que possui do período histórico posterior ao que estuda. Este é o oposto do materialismo histórico, que deve se basear nas consequências das relações ocorridas. O perdedor é preterido pelo historiador, ao contrário do materialista histórico. A cultura fora forjada por barbáries, bem como seu processo de transmissão. Por isso o materialista se desvia dela; considera sua tarefa escovar a história a contrapelo.

Os políticos do fascismo, para Walter Benjamin, possuem as seguintes características: obtusa fé no progresso,  confiança no apoio das massas e subordinação servil a um aparelho incontrolável.

Há um distanciamento da consciência humana da realidade, que Marx chamou de alienação. Benjamin critica a social democracia, por ser um processo desgarrado da realidade. O materialista histórico deixa com os outros a tarefa de se esgotar no bordel do historicismo com a meretriz “era uma vez”.