É inevitável:
estamos à mercê do materialismo
histórico. De maneira fatalista, esta entidade criada por Marx escreve o
rumo da história. Ela está por trás da manipulação do fantoche, os atores
sociais, como meios e mecanismos de ação. À luz da teleologia, as relações dos
fatores de produção com as relações de produção e a determinação que esta
relação possui na superestrutura define o telos.
Qual é a
relação que temos com o futuro? Ilusões, projeções de felicidade que poderiam
ter sido realizadas. Tivéssemos cumprido essas aspirações, seríamos felizes.
Estaríamos salvos. Hoje vivemos às sombras dessas construções.
A história
toma a imagem do passado como estudo. Invariavelmente não se sabe tudo, o que
dá sabor ao labor. Imaculado para quem o faz? Fazemo-nos sobre estruturas já
erigidas. O rito de passagem é despercebido, o natural social. A cada geração foi-nos concedida uma frágil
força messiânica para a qual o passado dirige um apelo. Esse apelo não pode ser
rejeitado impunemente. O materialista histórico sabe disso.
A luta de
classes estabelece o bruto e o material; sem eles não há o refinado e o
espiritual. Não se trata de um prêmio, mas fruto das relações: a coragem, a
confiança, o humor, a astúcia, a firmeza. Elas, sim, questionarão sempre cada
vitória dos dominadores.
O estudo do
presente permite sua própria mudança. Não está estabelecido, portanto. O
passado, quando reconhecido como tal, passa a ser objeto da história,
cristalizado. O historicismo se separa do materialismo histórico quando afirma
que a verdade nunca lhe escapará.
Estudar o
passado significa conhecê-lo não exatamente como ele foi, mas uma de suas
reminiscências. O materialismo histórico busca uma imagem do passado que
represente perigo imperceptível ao sujeito histórico, sem que ele tenha
consciência disso. Em cada época, é
preciso arrancar a tradição ao conformismo. Os mortos também não estarão em
segurança se o inimigo vencer.
O historiador
deve romper com as construções que possui do período histórico posterior ao que
estuda. Este é o oposto do materialismo histórico, que deve se basear nas
consequências das relações ocorridas. O perdedor é preterido pelo historiador,
ao contrário do materialista histórico. A cultura fora forjada por barbáries,
bem como seu processo de transmissão. Por isso o materialista se desvia dela;
considera sua tarefa escovar a história a contrapelo.
Os políticos
do fascismo, para Walter Benjamin, possuem as seguintes características: obtusa
fé no progresso, confiança no apoio das
massas e subordinação servil a um aparelho incontrolável.
Há um
distanciamento da consciência humana da realidade, que Marx chamou de
alienação. Benjamin critica a social democracia, por ser um processo desgarrado
da realidade. O materialista histórico deixa com os outros a tarefa de se
esgotar no bordel do historicismo com a meretriz “era uma vez”.