quarta-feira, 4 de abril de 2012

Giddens e a Teoria da Estruturação

A teoria da estruturação nasce na mudança do eixo da teoria social dos EUA (com Parsons) de volta para a Europa. Os três conjuntos básicos de questões neste momento, e dos quais a teoria de Giddens se preocupa são:
- ênfase no caráter ativo, reflexivo da conduta humana – rejeição da tendência do consenso ortodoxo de ver o comportamento humano como resultado de forças que os atores não controlam nem compreendem
- atribuição de um papel fundamental à linguagem e às faculdades cognitivas na explicação da vida social
- declínio da importância das filosofias empiristas da ciência natural tem implicações profundas nas ciências sociais
O enfoque do autor é nas sociedades modernas, com grande inclinação sociológica, embora considere sua teoria social e não apenas sociológica.
A principal preocupação da teoria social é idêntica a das ciências sociais: a elucidação de processos concretos da vida social.
O autor considera duas proposições no estudo das ciências sociais:
- a explicação é contextual
- a descoberta de generalizações não é a totalidade nem a finalidade suprema da teoria social
Ou seja, aliando-se as premissas acima, o objeto de estudo pode ser alterado pela própria pesquisa (ou pela ciência social).
A tradição de Parsons, estrutural-funcionalista traz consigo o objetivismo e o naturalismo. Em contraposição àqueles que adotam uma postura subjetivista, influenciados pela hermenêutica e pela fenomenologia.
Na teoria da estruturação, Giddens permite a existência de um sujeito descentrado, mas sem que isso implique a eliminação da subjetividade. A contribuição da linguagem, entretanto, é encarada pelo autor com ressalvas.
Para o autor, agentes ou atores humanos são similares. Possuem como aspecto inerente do que fazem, a capacidade para entender o que fazem enquanto o fazem. As capacidades reflexivas do ator humano estão caracteristicamente envolvidas, de um modo contínuo, no fluxo da conduta cotidiana, nos contextos da atividade social. A reflexividade, entretanto, opera apenas parcialmente num nível discursivo. O que  os agentes sabem acerca do que fazem e de por que o fazem – sua cognoscitividade como agentes – está largamente contido na consciência prática, que está contida em todas as coisas que os atores conhecem tacitamente sobre como “continuar” nos contextos da vida social sem serem capazes de lhes dar uma expressão discursiva direta.
Consciência prática é um dos principais temas do livro e deve ser distinta de consciência (discursiva) e do inconsciente. O autor adota uma versão modificada da psicologia do ego associada ao eu, relacionando-a diretamente com o conceito de rotinização.

O cotidiano é o caráter rotinizado que a vida social adquire a medida em que se estende entre o tempo e o espaço.
O autor diferencia consciência prática, consciência (discursiva) e inconsciência, no seu modelo. O que os agentes sabem acerca do que fazem e de por que o fazem – sua cognoscitividade como agentes – está largamente contido na consciência prática.
Rotinização: vital para os mecanismos psicológicos por meio dos quais um senso de confiança ou de segurança ontológica é sustentado nas atividades cotidianas da vida social. A natureza repetitiva de atividades empreendidas de maneira idêntica dia após dia é a base material do que o autor chama “caráter recursivo da vida social”. 

O Caráter recursivo é, portanto, a natureza repetitiva e idêntica das atividades do dia a dia – recriação constante das propriedades estruturadas da atividade social – via dualidade de estrutura – a partir dos próprios recursos que a constituem.
A rotina introduz uma cunha entre o conteúdo potencialmente explosivo do inconsciente e a monitoração reflexiva da ação que os agentes exigem.
Uma análise goffmaniana, de acordo com Giddens poderia ser a articulação de fenômenos que fazem a discussão do inconsciente: caráter situado da ação no tempo-espaço, rotinização da atividade e a natureza repetitiva da vida cotidiana.

Os indivíduos estão posicionados no fluxo da vida cotidiana, no tempo de vida que é a duração de sua existência e de um tempo institucional, a estruturação supra-individual de instituições sociais (aspecto durkheimiano do pensamento do autor).
Cada pessoa está posicionada em um um modo múltiplo, dentro de relações sociais conferidas por identidades sociais específicas, essa é a principal esfera de aplicação do conceito de papel social.
E não são apenas os indivíduos que estão posicionados (com relação ao outro e com relação a serialidade de encontros no tempo-espaço); os contextos de interação social também estão posicionados.
Os locais não são apenas locais, mas cenários de interação (interacionismo simbólico de Erwin Goffmann).
Regionalização com forte ressonância psicológica – ponto de conexão entre Foucault e Goffman, ambos atribuem grande importância as linhas social e historicamente flutuantes entre ocultamento e revelação, confinamento e exposição.
As mudanças sociais são vistas através de duas perspectivas: sistemas inter-sociais e extremidades do tempo-espaço, que o autor considera as duas componentes do conceito de “sociedade”.
Sistema social: conceito semelhante ao de ecossistema, isto é, é de difícil mensuração e pode ser avaliado por sua “sistemidade”, que acho que pode ser visto como um aspecto de integração dos atores.
Outros conceitos importantes: coerção, estrutura, princípios estruturais. As referencias de análise são as sociedades tribais, as sociedades divididas em classes, os Estados-Nação modernos e sua associação com o capitalismo industrial.
A busca de uma teoria de mudança social é algo condenado.
Conceitos de episódio e tempo mundial, em busca de uma hermenêutica para a mudança social mais adequada que os evolucionismos adaptados (incluindo-se o materialismo histórico).
A teoria da estruturação se ocupa de mudanças relevantes, tais como a formação de cidades em sociedades agrárias ou a dos primeiros estados.


A principal hipótese do projeto é que a mudança do eixo da discussão política para o meio ambiente é uma alteração relevante na teoria social contemporânea.


Bibliografia:
GIDDENS, Anthony. Constituição da Sociedade, A - Editora Martins Fontes, 2003

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