terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Max Weber e a Sustentabilidade

O modo de observar e interpretar fenômenos sociológicos utilizando-se do método weberiano continua surpreendentemente vivo e pulsante. A multicausalidade da ação social preconizada pelo autor há um século serve de base para uma rica análise de fatos sociais e seus desdobramentos. As motivações individuais que conduzem a ação são ordenadas por sistemas construídos vis-à-vis a realidade, levando-se em conta sua racionalidade, tradição ou afeto.
A onda mais atual, não só para os que zelam pela boa imagem de uma organização, mas também para um comportamento individual tido como ideal, responde pelo nome de sustentabilidade. Conceitualmente, em grandes linhas, ser sustentável significa adotar práticas que permitam a continuidade de ganhos econômicos buscando-se reduzir o comprometimento dos recursos (naturais e humanos). Na esfera empresarial, traduz-se na inserção no planejamento da organização de um posicionamento ponderado com questões sócio-ambientais, sem deixar de priorizar o lucro financeiro como resultado. Nesse cenário, portanto, as empresas incorporam em sua matriz estratégica um aspecto valorativo, que passa a ser um meio para continuar obtendo seu principal objetivo: ganhos financeiros. Passa a fazer parte do jogo o fato de, para sobreviver no mercado, as firmas necessitarem demonstrar que os aspectos meio-ambiente e sociedade fazem parte do rol de valores reconhecidos e exaltados. Em oposição a este cenário, as empresas que se envolvem com eventos danosos ao ambiente e de grande repercussão negativa logram perdas relevantes com relação a imagem e, conseqüentemente, ao resultado econômico. No capitalismo, Weber reconhece a tópica monocausal marxista, assume que a razão econômica é preponderante frente aos demais fatores, o que se mostra claro no mundo dos negócios.
Analogamente, e em consonância com as organizações, os indivíduos também adotam posturas incentivadas por essas novas diretrizes, através da incorporação de atos considerados mais condizentes ao seu cotidiano tendo em vista as mesmas preocupações. Há uma mudança de eixos essencial e tema da discussão deste artigo: as razões motivacionais da ação social, notadamente na aquisição de bens, passam a ter pesos diferentes. Tomada como uma ação sob a ótica weberiana, a escolha por uma marca desloca seu eixo da motivação racional ou tradicional (respectivamente preços mais baixos ou hábitos de consumo, por exemplo) a elementos ligados a valores. Em termos práticos, o mercado passa a comprar valores; a sustentabilidade os insere no mercado: meio-ambiente, sociedade e perenidade do modelo econômico tal qual existe.
O limite reside em saber em que medida os indivíduos estão dispostos a abrir mão de valores financeiros em prol de outros, intangíveis, mensuráveis ética e moralmente.

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